Lendas ancestrais e elementos da natureza desfilam no carnaval da avenida. Ogum “o primeiro orixá a vir para a Terra”, traz seus metais forjados para caça, para agricultura ou para guerra. Oxóssi caçador, garante a fartura de alimentos. Oquê arô! A mãe do entardecer, epa-rei Iansã, mãe batalhadora, assovia os ventos e as tempestades.
O Afoxé é ritmo negro, é dança e reverência à cultura de matriz africana, mas sobretudo é fruto da resistência do povo brasileiro.
Mascarados, eles saíram às ruas da Bahia no dia 2 de fevereiro de 1895, dia de Iemanjá, entoados pelo som de atabaques, agogôs, afoxés e xequerês. A manifestação ficou conhecida inicialmente como candomblé de rua. Os povos do candomblé reivindicavam o direito de estar no carnaval.
Hoje não se usa a máscara para a proteção, mas para representar os Eguns, aqueles que acompanham nosso passos na terra, já que os Orixás não descem às ruas. O Estandarte de cada ano abre alas desvelando o sincretismo. Foi trazido de Portugal, pelos navegadores. E as músicas contam os mitos da religião.
O Afoxé Niza Nganga Njungo, do Banto, “a vinda do povo na rua”, realiza ensaios mensais, temporariamente localizados na casa do Pai Jaques. Apadrinhados pelo grupo Filhos de Gandhi, do Rio de Janeiro, com o patrono Exú Tibiriri Nanã, o Niza toma as avenidas de Juiz de Fora há oito anos, enegrecendo o carnaval da cidade.
No Brasil de imensos preconceitos escondidos sob adereços e rebolados, o Afoxé é mais que rememorar a cultura dos antigos. Os passos ritimados pelo batuque nos pezinhos das crianças são reconhecimento em suas origens, identificação com a história desse povo guerreiro e empoderamento contra os traços europeus e os cabelos lisos da sociedade branca.
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