Na carreira do café…
Imagine o dono de uma fazenda de café, sentado em uma varanda sombreada observando seus escravos roçando as carreiras dos cafezais, sob o sol quente ou a chuva fria. A dona da casa e sua filha em seus vestidos senhoriais bordando na sala de estar enquanto as negras pelejavam à beira de grande fogões a lenha. Agora imagine que, de hora para outra, com a abolição da escravidão, senhores, senhoras e princesas tiveram que pegar no batente para dar conta de todo serviço na fazenda. Eu nunca tinha pensado desse ponto de vista até conhecer seu Bibim e ouvir dele a história cantada sobre o aperto dos fazendeiros que ficaram sem seus cativos.
Seu Bibim, nascido na Comunidade do Félix, região de Araponga, em 1946, no dia 06 de maio em uma família de 9 irmãos, mora na comunidade de Praia D’Antas, onde viveu e criou sua família na lida com a lavoura de café e a roça. Viveu tempos difíceis na vida de camponês e conta que perdeu dois irmãos precocemente por falta de condições. O acesso a atendimento médico era muito precário e restava a eles o recurso de remédios do mato. Sua mãe, além de parteira tinha muito conhecimento de ervas e tratou de cuidar da vida dos filhos, do marido e da vizinhança com a sabedoria do caboclo.
Aibis Inácio (seu Bibim) é Filho de José Lopes Filho e Maria Teotônio Lopes, neto de Floripes Maria de Jesus (neto de africanos) e José Pedro Lopes (neto de portugueses) por parte de pai, e por parte de mãe neto de Emilia Margarida Teotônio (filha de descendentes de portugueses) e Manoel Inácio Teotônio (índio) criou dez filhos e hoje ajuda na criação de sua neta que se esbalda em meio ao café colhido que seca no terreiro de sua casa. Sua história de vida e suas canções nos ajudam a conhecer a história de nossa região da Zona da Mata, de Minas e do Brasil, assim como a formação étnica e cultural de nosso povo.
Sua memória mantém viva as músicas que seus antepassados inventavam, pessoas sem instrução escolar, mas cheios de criatividade, “sabiam divertir, um inventava uma música de uma maneira, outro inventava de outra maneira e ali se completavam”.
Joaquina Martins (portuguesa) passou a música dos escravos.
A música/história que ele nos ensinou, e que por sua vez aprendeu com sua mãe, que aprendeu de sua avó e que aprendeu com sua bisavó Joaquina Martins (portuguesa) serviu de inspiração para o grupo Sons da Mata fazer uma releitura na gravação do CD Caixinha de Memórias. Participaram da gravação Rosenilha Fajardo, Hermes da Viola e Jefferson Parizotto.
Seu Bibim! Deixamos aqui nosso presente de aniversário.
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